topo
linha2

Fotogaleria

 
» Home » Crónicas e Artigos »Ermelindo Ávila » Professor Doutor José Enes

 

Professor Doutor José Enes

 

Traja de negro esta crónica de hoje. Regista com mágoa o falecimento, no dia 1 do corrente, na sua casa em Lisboa, do Professor Doutor José Enes, um dos mais distintos e eruditos picoenses da actual geração.

O Doutor José Enes, como era conhecido e tratado, nasceu na Silveira, antiga freguesia da Santíssima Trindade, desta Vila, em 18 de Agosto de 1922. Completaria, pois, noventa e um anos no próximo dia 18.

Sobre a sua distinta personalidade algo arquivei em “Crónicas da Minha Ilha”, (1). Neste momento bastante doloroso para quem conheceu o Doutor José Enes, desde a distante juventude, vale a pena aqui trazer o que foi ao longo da sua vida o ilustre picoense.

O Doutor José Enes frequentou e concluiu o curso do Seminário de Angra onde já se revelou um talento invulgar, sendo por isso escolhido para se licenciar em Filosofia na Universidade Gregoriana, em Roma.

Regressado foi colocado como professor e prefeito do Seminário, desenvolvendo, em Angra grande actividade cultural. Foi um dos fundadores do Instituto Açoriano de Cultura, promovendo as célebres “Semanas de Estudo”, cuja presidência deixou quando, na Horta, se realizava a Terceira Semana, para ir para Lisboa, a convite do Cardeal Patriarca, para ingressar no Corpo Docente da Universidade Católica, para o que foi a Roma fazer o doutoramento em Filosofia. A sua Dissertação “À Porta do Ser” foi publicada pela Faculdade Filosófica da Pontifícia Universidade de Roma -1969-, em volume de 525 páginas. No Prefácio escreve o Autor, logo de início: “Este livro, apresentando-se numa sujeição interpretativa, é uma obra de pensamento pessoal...“

No entanto não lhe foi entregue a Reitoria da Universidade, como haviam prometido mas apenas a vice-reitoria. Naturalmente, não satisfeito com essa atitude, resolveu ir para Angola, e aí dirigiu um dos Departamentos da respectiva Universidade. Lá nos encontrámos em Setembro de 1973. No gabinete da reitoria, que então assumira, passámos uma manhã inesquecível.

Com a descolonização voltou aos Açores e foi um dos fundadores do Instituto Universitário que, depois, passou a Universidade da qual foi o Primeiro Reitor. Aposentado, voltou para Lisboa sendo aí convidado para Professor da Universidade Aberta, sendo seu Reitor por algumas épocas. E foi em Lisboa que terminou a sua vida terrena  não esquecendo nunca a Montanha que o viu nascer...

Aquando da realização, na Horta, da III Semana de Estudos, em 1964, foi agraciado pelo Presidente da República, com o grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e, em 1983, com o Grande Oficial da Ordem da Instrução. Nas comemorações do quinto centenário do concelho das Lajes do Pico, nas quais esteve presente, a Câmara Municipal atribuiu ao distinto e ilustre lajense, o diploma de cidadão honorário do concelho. Igual distinção havia - lhe sido concedida pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.

Foi a Personalidade picoense mais distinta, cultural e intelectualmente, da nossa geração. Posso afirmá-lo sem contestação. E apesar de, por razões familiares, se haver ausentado da ilha ainda na infância, nunca deixou de ter o Pico como a sua terra predilecta. Prova-o o excelente poema que, como Poeta inspirado que era, nos deixou e que o malogrado Maestro Emílio Porto e o Grupo Coral das Lajes do Pico incluiu no seu reportório. Com ele termino estas duas palavras de homenagem a quem sempre me dispensou uma amizade condescendente e singular, deixando aqui os meus cumprimentos respeitosos e o meu profundo pesar à Exma. Viúva, Doutora Maria Fernanda Enes e aos Filhos.

MONTANHA DO MEU DESTINO
                                                           
Montanha do meu segredo
Montanha do meu destino,
Tocaste-me com um dedo,
Imprimindo em mim um signo:
Quando me viste nascer.

Montanha da minha dor,
Montanha do meu chorar;
Olhaste-me com amor,
Com um fundo e puro olhar:
Quando me viste nascer.

Montanha dos meus desejos,
Da minha louca ambição;
Encheste-me a alma com beijos
Do fogo do teu vulcão:
Quando me viste nascer.

Montanha da minha sorte
Oh! Génio do meu viver;
Encomenda-me na morte:
Quando me vires morrer.

E. Ávila, “Crónicas da Minha Ilha”, Vol. II ,2002, pág.214.

Queremos ouvir a sua opinião, sugestões ou dúvidas:

info@adiaspora.com

  Voltar para Crónicas e Artigos

bottom
Copyright - Adiaspora.com - 2007